domingo, 25 de outubro de 2009

Servil.

-Oh, é claro que seria bom.
-Então deixe de conversa! Sente e beba.Sem pressa dessa vez.

Dez minutos depois, e lá estava o Pierrot descendo a rua.

Desde que tinha sido traído por sua Colombina, Pierrot vivia muito mal; comia migalhas e dormia poucas horas. Chorava e, as vezes, acordava abraçado com uma garrafa de vinho azedo. Aos poucos, tomou forças e assim voltou a trabalhar: dois patrões.
Um era um bancário amargurado.Botava licor pros dois e contava suas conquistas incompletas, admirava as cores do Pierrot.Ambos comentavam suas infelicidades e como se manter a balança sentimental favorável.Riam juntos, até que o homem tivarava da pasta apólices e sua caneta de ponta fina.Pierrot ia embora .
O outro era um pintor.Limpava a mão suja de azul e outros tons num paninho velho e recebia o Pierrot com um abraço. Não paravam muito pra conversar.Pierrot era advertido quando ficava olhando o pintor misturar as cores.As vezes paciente, ele largava as tintas e explicava para Pierrot sobre as técnicas academicas de pintura.Quando ia buscar uma garrafa de vinho na adega do pintor, Pierrot já sabia que ele estava sentindo falta de seu amor, Jennie. Esperava ele ficar bêbado.Pierrot ia embora.
Pierrot andava pelas calçadas, parava pra beber.Acordava bêbado.Era a falta da Colombina, era o pai tuberculoso e sobretudo, a incapacidade de servir bem seus patrões que sempre reclamavam dele.Circulo vicioso
Seria muito feio seu corpo espatifado no chão, ou boiando no rio.
Um dia ouviu os sussuros de Colombina num beco.Arlequim com a mão por dentro da roupa da moça, ambos se confrontando. Acumulando raiva e rancor.
Antes de chorar, Pierrot tomou uma decisão.Misturou veneno no seu vinho azedo.
Dormiu, pra sempre.

No dia seguinte ainda não era carnaval.
-Andou bebendo de novo? Vamos, você já está atrasado e temos muito pra fazer (ou por viver)

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Ah não! Pierrot morreu ?! Como assim ?! Triste saber...
    Mais um texto inédito, já sei o quanto vc escreve bem. Admiro a sua imaginação pra escrever textos como nada visto antes, invejo seu talento!

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