quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Vicioso.

E as festividades se estenderam pela madrugada.O chão sujo de papel picado e as bolas pelo salão.Como é de se acontecer, a vontade de chorar engolia ela própria.Mesmo os sóbrios viam motivo em se apoiar num suado ombro amigo.
Ela recostou a cabeça no ombro desajeitado, ele desajeitado prendeu a mão na cintura dela.O sol nascendo alaranjado, os passos lerdos adiando um fim não doloroso.Quem procurasse uma palavra doce, ficaria laconico por alguns minutos.Na ausência de algo melhor, olhar pra ponta grudenta do sapato.Um tapinha nas costas e um riso sem jeito já eram bom consolo.
O cansaço e o desejo fez tudo fluir rapido.A pele deslizante na mão macia.A continuidade de sorrisos de olhos fechados.
Cada minuto pedia mais um minuto.
Um xícara rápida de café anunciando a sonolencia nos corpos.Também, tinha sido muita emoção num só gole de vodca.Era hora de ir, e os invictos vinham cambaleantes pela calçada, com a camisa aberta e o bafo de álcool.Vomito e tontura é uma condição opcional, a qual nem todos estão aptos.
Se deitaram, e dessa vez, era por sono.O dia chamava pra sair, mas ali dentro era o melhor lugar.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Little Win.

Ela quer que todos planos dêem certo
Tento ajudar quando estou por perto
E também quando não estou
Na verdade, eu já vou
Mas não vai ser por muito tempo,
Eu prometo

Se as pálpebras pesam, aproveita o sono
Também entendo o cansaço.
sei que não é fácil.
Ninguém falou em desistir,
Eu só acho que se prender medo não é necessário
Se permitir sorrir e sonhar
sem calcular a passagem dos dias.

Confusão pra começar
Reclama da solidão as vezes,
mas já se passaram alguns meses
Ela dorme no mesmo lugar.
Quando acordar, onde quer que esteja
Me beija, eu te amo

Muito

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

As Vítimas.

".....apesar de inconstante, ela é uma boa menina"Ainda lembrava que refletiu quando se decidiu por pedi-la em namoro.
arrumou a garrafa e os remédios na mesa.Catou o controle remoto, recostou-se e deu play no filme.

Apesar de vários motivos contra, Dani aprendeu a se realizar.De fato a separação dos pais no começo da adolescencia foi uma baque forte pra guria.Lembra que baixava o volume da tv pra ouvir o que os pais gritavam no quarto ao lado; voltava aumentar já quase chorando.
A esperança de ir pra Disney nas ferias se rompeu, e antes essa fosse a pior parte.
Vivendo só com a mãe, ouvia todos os dias como era difícil ser mulher num mundo de homens.Aprendeu que devia ser independente.Como colateral, aprendeu a rancorizar e ser dura com toda sorte de rapazes.Tomou horror de acompanhamento pisicológico.
Aos poucos superou.Feliz poder encontrar o pai.Eles passeavam pelo bairro onde agora o ele morava numa casa de aluguel.Dois comodos.Paravam e tomavam sorvete, como uma família feliz devia fazer num domingo a tarde.
Treze anos e já não via graça nos filmes da Disney.Ligava o radio bem alto e botava Stone Temple Pilots ou Alice in Chains.Rodopiava fazendo da escova cabelo de microfone, caia na cama cantando o refrão de Plush junto com o Scott.
No colégio era boa aluna, mas evitava se expor.Mesmo com poucos amigos, eram leais e divertidos.Assim vieram as matanças de aula,o desejo de saborear nicotina e os primeiros toques alheios.Na seletividade que tinha sido empurrada, preferia ser atraída pelos tipos menos comuns.
A mãe chegava do trabalho ela já estava sonolenta.O pai tinha rugas e aparecia cada vez menos.a mãe saia, e acabou achando alguém, julgou.
Foi se permitindo e cresceu como mulher.
O cabelo tingido até nos ombros, a identidade falsa, o senso de responsabilidade.Se pra alguns de estômago fraco, o vomito jorrava no meio fio,ela preferia manter a linha.Sentava na mesa de sinuca numa quinta a noite e numa sexta estava na aula despejando conhecimento sobre a literaturainglesa, sempre sublinhando as consoantes iniciais ao dizer Oscar Wilde.Trabalhava pra ajudar a mãe com as despesas e pra custear sua vidinha.O pai tinha lhe dado uma irmã mais nova.
Os livros da escola, as revistas e o CD do Queens largado na cama.
Se esbarravam na biblioteca, se viam nos corredores.
-Principe Feliz realmente me faz pensar.Eu me sinto tão...incapaz.
Não eram tão novidades um pro outro, só descobriram coisas que não imaginavam.Horas conversando, gostos similares, risos e negativas.
-Claro que os Stones são melhores
-Dorian Gray! Lindo, lindo.
-Não acho o tipo de coisa que se compara, po.É gosto.
-Aquele solo do Hendrix
-As vezes me sinto tão só
-Ficção cientifica
-Paris!
-É.Paris
Abraçados pela rua, ele mal conseguia controlar a felicidade no seu peito.Mas fez.Ficou calado e mesmo no cinema, preferiu olhar as feições dela.A luz batia, descia pelo nariz e fazia os olhos brilharem.Ela virava rindo, apertava o braço dele.
-Você viu isso?
Deslumbrado ele não fez nada. Preferiu bancar o bobo.Foi contando os passos pra casa.
Os relógios envelheciam.Pensou consigo mesmo em suas equações mentais.Decidiu por bem.Talvez fossem o casal mais lindo da cidade, mas ninguém os percebia camuflados no escuro, ainda mais nos dias de chuva.
Resfriados e abraços, cinemas e lanchinhos.Os dois ciumentos, com as magoas mutuamente engolidas.Se davam tão bem que ia ser pra sempre.Aqueles planos de futuro.Ele era sonhador, ela não tinha problemas com as próprias roupas.Apaixonados.
A indústria estava quebrada, e o mercado interno entrou em crise."Decidiram" romper.
Ela ficou triste, ate chorou, mas não prolongou muito.A vida tinha sido incisiva que rapazes vem, rapazes vão.Na mão de um bom entalhador, até pedra de sabão vira escultura.Ele ficou triste, quis se matar. Ouviu vários conselhos, desde "Não deu, não era pra ser" até o "ela era uma puta".Nada adiantava.Nem teorias divinas.Em duas semanas tinha festa da tia.Pais e irmãs iriam. Ele pediu pra ficar.
Apagou quase todas as luzes e foi se preparando.Tinha sido um bom aluno, permanecendo anestesiado pelas constantes brigas dos pais.Gostava de ler e de rock.
Sempre que podia, também curtia filmes cult.
Abriu a capinha e botou seu dvd predileto.Na mesa, uma garrafa de whisky 12 do pai e uma pequena sorte de remédios: Berotec, Aspirinas e um antidepressivo da mãe.
Nos últimos dias, tinha ouvido notas muito pesadas pra baixo, entre Radiohead e Joy Division.
Desligou o filme
Dani era a garota mais interessante que ele já tinha conhecido.Uma mulher, uma menina.Independente, inteligente, proativa, sincera, educada....nos braços dela, ele esquecia de como era motivo de graça quando era do ginásio, esquecia de sua arrogância e prepotência.Sentia-se o cara mais feliz do mundo, e ela nem parecia sentir falta.Estavam conversados, mas não era aceitável.
Se achava pobre, feio, tinha pouco incentivo, pouco reconhecimento.Muitas pressões afunilavam decisões.Valia apena.
"Berotec é em gotas" questionou se como ia misturá-lo no coquetel de overdose.
Pesou em Dani pela ultima vez, foi na cozinha, botou Shadowplay pra tocar.Parou diante dos remédios pela ultima vez.
"Eu também fiz besteira, eu sei.Estraguei uma sensação tão boa, e olha como quero resolver...que idiota.Ninguém tem culpa.Amo porque apesar de inconstante, ela é uma boa menina"
Botou uma dose de whisky, se jogou pra trás.Dormiu no sofá.
Dani tinha medo que as dores mastigadas, um dia a engolissem.
Placebo ou não, doses homeopáticas de felicidade também curam velhas doenças
"no centro da cidade, esperando por você"

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Acender.

Eu sei que meu despreparo
vai transparecer no meu abraço
mas espero que isso não assuste, pois eu
apesar do meu aparente descaso
estou sempre aqui e tudo o que faço
e pra ter satisfação quando posso (ou puder) te ter

Sempre que eu me perco
encontro ou escorro, por ser
pouco e defeituoso, ao meu ver

Saliva em boca alheia
Cortes, bufos, mordidas e arranhões
dores boas, projeções de prazer

Ouça meus passos contra o chão
Sobraria medo em mim, mas
Agora sinto que posso mais
O deslizar das minhas mãos
o sangue pulsando quente
e as lágrimas douradas, só por eu chegar
No teu corpo

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Bebida quente arde a garganta.

Medo costuma ser uma palavra chave.Aversão, prudência.O medo de crescer demais e pisar em alguém, ou o medo de encolher de novo e ficar se esquivando para não ser pisoteado.Arriscar realmente é muito perigoso.Era melhor então manter as pílulas magicas dentro do potinho, na minha mão esquerda.
Uma patinha peluda empurrou uma xícara que girou até mim.A fumaça quente me dizia pra esperar um pouco antes de provar.Antes de algum movimento meu, o homenzinho de chapéu a minha esquerda danou a encher minha bebida de açúcar, até só ficar uma montanha branca onde antes tinha chá.Abraçou a lebre e riram sem parar.Cantarolaram e botaram graxa em algumas torradinhas.Serviram chá para todas as xícaras da mesa, até as que estavam de ponta cabeça.Deitei e larguei meu potinho na mesa.Muita loucura, preferi me abster.

-O que foi irmãozinho? Esquecemos de te dar chá de nozes, ou você está doente? Porque não está feliz?
-As vezes me sinto vazio.Deixo oportunidades passarem, ou machuco pessoas próximas.Tento fazer o certo, mas acabo sempre repreendido.Sou incorrigivelmente infantil e medroso.O otimismo e o fracasso sempre vem pra mim no mesmo prato.Ninguém sente falta de mim por mais de um verão.Sou um descompasso -disse eu meio perdido.
Um silencio.
A lebre e o homem baixinho se entreolharam.
-Acho que ele é doente, amigo
-Acho que aquilo perto dele é o remédio, amigo.
Vieram vorazes na minha direção.Um me apertou a boca, outro me empurrou pra trás, me derrubando no chão.Em um segundo, todas as pílulas foram passando pela minha garganta.Eu ia crescer, encolher, mudar de cor...o que ia ser?Acho que morri

É a ultima coisa que me lembro antes de me acordar sem ar numa noite chuvosa .

sábado, 31 de outubro de 2009

Duplipensar.

Não é verdade.Nunca foi
Isso não voa
Aquilo já está morto, muito antes de nascer.
Tudo o que voce aprendeu é apenas uma visão
Uma a mais

Os didatismos que te ensinam a ser cruel
porque a bondade por si só
é um caldo ralo demais
Guerra é Paz

Passado e futuro não existem
O presente é o importante
Tudo é diluivel
Um ataque surpresa é sempre previsivel
Tudo é mentira
Uma a mais

domingo, 25 de outubro de 2009

Servil.

-Oh, é claro que seria bom.
-Então deixe de conversa! Sente e beba.Sem pressa dessa vez.

Dez minutos depois, e lá estava o Pierrot descendo a rua.

Desde que tinha sido traído por sua Colombina, Pierrot vivia muito mal; comia migalhas e dormia poucas horas. Chorava e, as vezes, acordava abraçado com uma garrafa de vinho azedo. Aos poucos, tomou forças e assim voltou a trabalhar: dois patrões.
Um era um bancário amargurado.Botava licor pros dois e contava suas conquistas incompletas, admirava as cores do Pierrot.Ambos comentavam suas infelicidades e como se manter a balança sentimental favorável.Riam juntos, até que o homem tivarava da pasta apólices e sua caneta de ponta fina.Pierrot ia embora .
O outro era um pintor.Limpava a mão suja de azul e outros tons num paninho velho e recebia o Pierrot com um abraço. Não paravam muito pra conversar.Pierrot era advertido quando ficava olhando o pintor misturar as cores.As vezes paciente, ele largava as tintas e explicava para Pierrot sobre as técnicas academicas de pintura.Quando ia buscar uma garrafa de vinho na adega do pintor, Pierrot já sabia que ele estava sentindo falta de seu amor, Jennie. Esperava ele ficar bêbado.Pierrot ia embora.
Pierrot andava pelas calçadas, parava pra beber.Acordava bêbado.Era a falta da Colombina, era o pai tuberculoso e sobretudo, a incapacidade de servir bem seus patrões que sempre reclamavam dele.Circulo vicioso
Seria muito feio seu corpo espatifado no chão, ou boiando no rio.
Um dia ouviu os sussuros de Colombina num beco.Arlequim com a mão por dentro da roupa da moça, ambos se confrontando. Acumulando raiva e rancor.
Antes de chorar, Pierrot tomou uma decisão.Misturou veneno no seu vinho azedo.
Dormiu, pra sempre.

No dia seguinte ainda não era carnaval.
-Andou bebendo de novo? Vamos, você já está atrasado e temos muito pra fazer (ou por viver)

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Um bom vinho.

Apronta tuas asas

Cabe a mim sempre a tarefa inglória:
admitir as sobras de pele morta
Engolir seco e cuspir respostas.
Digno de aplauso,
e se estou bêbado ou não, não importa
tanto faz se a plateia vibra
não consigo me felicitar tendo perdido a aposta
mas se me permitir a franqueza,
sei que de mim você gosta

Sentados e se entreolhando desde o principio
sintomas de um velho vicio
Não se lamente, ainda acharemos graça disso
se olharmos nos ossos, veremos os nomes que estão escritos
Quem vai parar agora e quem vai beber um pouco mais?
Não me olhe, eu não sei
Não controlo
Não mais

Apronta tuas asas, e lembra que eu vou nas tuas costas
Este cálice que não afasto, nem deixo em outra mesa
mas se me permitir a franqueza,
sei que de mim você gosta

"Asas prontas"

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Luzes da cidade.

Hoje eu posso ser a mão
que te leva pra casa
Hoje eu posso ser a ausencia da falta
Seu corpo parece cansado
esperando uma zona de conforto
E já estamos indo pra casa

Agora voce tem que ficar bem
E me sorrindo assim
qualquer tipo de duvida vira verdade
alarma a sirene do teu peito
esquenta, aquece
doi
e voce nunca esquece
E a gente vai indo pra casa
iluminados pelas luzes das cidade

Os raios de fora
confrontando nosso escuro
nossos olhos, nosso agora
Atentos na movimentação
em ruas quase desertas
no cheiro e na respiração
nas curvas e nas retas

As estrelas de varios volts que nos cercam

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Videotape.

Respostas
elas foram descendo a nuca e já estão nas unhas.
A mão pressionando as costelas
Deformando a pele
marcando minutos
Verdades em situações
cenas gravadas
arquivos e caixas

Talvez, acender um câncer pelo filtro
não tragar pelo medo
tosse, dor
Dormir tarde
Acordar cedo
O dia ainda sem cor
sol nascendo, ou morrendo
pés na grama, na areia
ótima cena

Riso engolido
caminho travado
peito dolorido
E os carros seguindo
alguns pra longe, fora da visão
Olhos, bocas e mãos
Fotos em sequência, sobrepostas
movimento de resposta.

domingo, 20 de setembro de 2009

King Size.

O corpo todo é um convite sem letras
Desacelerando,
pra manter cada felicidade.
Se os olhos procuravam esconder,
o sorriso disse a verdade

O cheiro no outro,
deslize pelo pescoço.
Respiração, inspiração
transpiração.
O cheiro é álcool
no corpo, nenhum osso.
Exploro cada centímetro

A razão insiste,
vira e as vezes erra
Harmonia daltônica
Me marca com os dentes
me incinera.
Nossas horas nunca são contadas em minutos.
Não mente

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Os Matadores.

Ignorando janelas fechadas, um faixo de luz bateu na cara dele.Estava quase acordando do quase sono, depois de um prazer inteiro.Botou a mão na cabeça dela e começou a fazer carinhos circulares.Aparentemente ela ainda estava dormindo, ali com a cabeça no peito dele, como devia ser sempre.
Quase nunca tocava uma musica boa, mas em sua cabeça ele imaginava uma.Nessa noite, tinha sido literalmente um quarto em chamas.As vezes ele deixava fumaça sair de sua boca.Ela falava de mais ou não dizia tudo o que precisava.As vezes se viam e não falavam nada.A parte divertida era esperar o outro baixar o olhar pra sacar a faca.
-Está tudo bem?
Tinham aprendido a se odiar.A calcinha no banheiro e a toalha pelo chão.Se amavam assim.Chegava a ser irritante quando ele se empolgava em seu gosto por bandas clássicas, citando álbuns e falando sobre o timbre da guitarra.Era igualmente chato quando ela falava dos livros que tinha lido nos últimos seis meses.
-Não sei quem te disse que minha vida gira pra você.
Foi assim que acabaram viajando juntos uma vez.Quase ninguém entendia a lógica deles.Quem entendia achava graça.Não era só sexo, mas também era muito bom.Se ela não fosse tão tempestuosa, já estariam de aliança, o que teria evitado a passagem dele pela vida de outra pessoa.Dançavam com foices, e tudo o que faziam era cortar cabeças alheias.Ela ficou chateada quando ele fez vergonha aos pais, mas ela mesmo odiava aquele carro velho dele.
Garota classe media que mordia a boca todo dia indo pro trabalho, pois preferia viver de um ócio criativo, escrever um livro.Ele rapaz sem ouro que tinha ficado super feliz quando passou no vestibular.Moravam longe, e quando perto só paravam de se combater quando o pulmão de um já estava cheio do cheiro do outro.Um dia ele ligou e incrivelmente ela atendeu.
-É só você chegar.Já tou descendo, amor
Ela acordou.Percebendo ele logo tirou a mão da cabeça dela.Fingiu tossir mas nem assim ela o encarou.
-Que horas são?
Ela tinha um orgulho bobo, o mesmo que fazia querer dividir a conta.Ele botou a mão na cabeça e viu ela se levantando e procurando sua camisa no chão.Vestiu pela cabeça.Talvez ela fosse assim com todos.Ela fechou o ziper e ele rolou pelo colchão.Ele se sentia mal pelas coisas que tinha feito de errado, mas seu egoísmo lhe dizia que o maior injustiçado era ele.Ela sentou na ponta da cama e já estava amarrando os cadaços.Um dia no meio de tanta gente, ela sussurrou que casaria com ele.
-Não sou sua namorada
Ela volta, sempre volta.Nunca fica.
Talvez no próximo final de semana, a vodca o fizesse achar algum amor descartavel.Ela morreria de ciumes em casa, mesmo assim o perdoava.
-Você é incrível
Era um grande idiota.Naquela noite, ele tinha comprado uma garrafa de vinho pros dois, que a libido acabou forçando-os a abandonar pela metade.Ele adorava o jeito como quando sem graça, ela ficava insistentemente arrumando o cabelo pra trás da orelha.Ambos tinham culpas engolidas.O medo de perde-la de uma vez por todas sempre o fazia pedir desculpa mil vezes, o que reforçava sua idiotice.Ela achava bonitinho, e foi assim que naquela noite puxou o pelo pescoço pra ficarem de olhos fechados.
Ela girou a maçaneta e saiu.

"Apenas alguns sabem saborear a felicidade quando ela cai do céu em suas mãos"

Não foram felizes, mas se amaram para sempre.

domingo, 30 de agosto de 2009

Imperdoável.

Se o teu sono agora é tão tranquilo,
é a ausência daqueles sujeitos.
Os olhos pretos se escondem em cílios.
Não honra os pais,
Tem medo de ter filhos

Indesculpável
Esse ser humano
Teu próprio gosto lhe foi desleal.
Limpou a boca suja com a roupa,
nas frutas faltam azeite e sal

Derrubou molho na ponta da mesa
Pingou no chão, até parece sangue
Se eu não fui alimento suficiente
Chama teu animal adulto, ele lambe

Está chupando línguas, mentiras e pregos
Fez da cruz martelo de brinquedo
A aliança que voltou pra caixa
não é mais digna de estar no dedo

Sujeito indefinido, sem predicados
Da boca escorre um vermelho vivo.
Moscas beijam feridas abertas
Trocou trinta moedas
por três grãos de milho.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Simples.

-Está tudo certo.
Ele veio com passos leves, mas ainda assim o chão de madeira rangia.Sentou na poltrona de frente a minha, começou a preparar o cachimbo.
-Deu tudo certo, como eu previ.Agora, toda a Scotland Yard deve estar tentado entender o que aconteceu.Nunca descobrirão.Saiu perfeito.
Arrumei meu chapeu-coco na cabeça.Pra onde eu olhava, via aquele homem de meia idade.Ele não devia ter uma esposa? Quadros, medalhas, a garrafa de licor com um copinho do lado.Tudo tinha uma camada fina de pó.A lupa e o jornal na mesinha de centro.Tudo ali era aquele homem, assim como seu bigode caracteristico.Debrucei a cabeça sob a mão que segurava a bengala.
-Não há como ter saído perfeito.Deve ter deixado alguma pista.Voce mesmo me ensinou que não há crime perfeito.
Ele deu uma baforada longa.Afastou o braço, e a fumaça encobriu aquela cara por completo.Depois ele começou a ir aparecendo, como emergindo de uma neblina.

Certas coisas nascem com funções pré-determinadas

-Meu caro, perfeito não é o crime.As pessoas que são muito tolas pra não soluciona-lo.Fiz pensando no futuro.Se existem pistas, ninguem perceberá.
Mesmo errado, ele dava um jeito de parecer mais sabio, mais sobrio de uma alienação.

Seria um crime maior aceitar as designações amargas
Ou morrer tentando viver outros anseios?

Eu adimirava aquele ar superior.Por vezes me vestia com aquela sabedoria, e me perguntava se realemte me caberia, se podia me pertencer.Lembrava de quando aprendi a jogar xadres, de que cada peça tem uma função e movimento caracteristico.Cavalo pula os demais.Olhei ao redor, o florete e uma luva caidos numa poltrona alheia.Rainha vai pra onde quiser, assim como as rainhas da minha vida.Talvez nenhum chefe de policia britanico fosse apertar minha mão em gratidão por elucidar um caso com minhas percepções de logica aguçadas.Aquela fumaça me deu inveja, abri a caixa de madeira na mesinha, charutos latinos.Girei um na mão.Um charuto nasce pra ser incinerado.
Um dia eu morro, e ninguem sabe.Igual agora.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Nada demais.

Tomei costume,
de ser alvo dos teus truques.
Esses braços que me puxam
antes de eu cair no chão.

Me defendo de toda violência
com musicas tão bobas.
Todas as palavras, contra minhas palavras.
E eu não admito,
mas encolho os ombros.

Sem sangue dessa vez.
Não sei mais conjurar maldições.

As coisas mudam a cada dia.
Vamos começar uma pagina,
soltar as moedas de ouro.
Talvez houvesse uma tragédia
se eu não fosse tão velho e chato

Ficaria se me pedisse.
Não doeria acordar e te contar como estou bem.
Eu gritaria de feliz .

Há dias em que eu queria outra pele
pra me esconder
Uma que combinasse com sua roupa.

Eu que tenho os joelhos ralados
"quanto tempo?"
Eu que vivo entre deuses
e as vezes sirvo de tapete feliz
"por quanto tempo?"
Segurado pedras,
Engasgado de vontades.
Eu as vezes queria ser outro alguém

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Contra Agosto.

Os passos pesados,
apenas um sintoma de um sono interrompido
com o toque do despertador.
Sem alegria nas roupas.Café acorda.
Os olhos doloridos, de certa pelo mesmo motivo que lhe salgava a boca.
Esperando para atravessar a rua, lembra de uma música.
Será que ela estava bem?
Será que ela estava sorrindo com alguém?
Mesmo com o passar dos dias, sua letra continuaria tão regular e homogénea
nas próximas manhãs de domingo?

O tempo é realmente um deus terrível.


Adeus era uma palavra desconhecida para sua zona de conforto, ainda assim,
ela estava o incomodando.
Gotas de chuva na cabeça.Ela é musica que mais lhe agrada.
Convenções sociais:
O medo é o inferno mais amargo.
A defesa mais automática também.
"-Ponta do sapato suja...lama?"
-Chuva.
Lama cabe bem no momento.
Saudade do bolo de aniversário,
da entrada lenta na igreja,
da tarde nas pedras,
do tentar convencer o pai ausente...
Saudade de todas de todas aquelas coisas, que ele só viveu de olhos fechados

"Está decidido"
E as gravuras que estavam descolando do caderno?
Será que vai escrever o nome dele no canto da folha?
Havia mal em por aquela foto numa moldura?
Tosse breve, sintoma da chuva.
Dor de cabeça, sintoma da ausência forçada.
Café acorda.Quem quer acordar?
Um dia bom pra ter preguiça a dois.
Uma mancha no ombro lhe lembrava que era feliz

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Duas linhas.

Meu trem é o próximo
e não sei se volto.
Apesar de eu querer,
acho que agora não dá
Mas vou tentar.
Volta sim!
E não peça pra eu desistir
Você cisma em insistir
Como você é bobo
e você é chata
e então, a gente se marca de novo
vira o rosto, acha graça
já sabe como é
eu te disse
Resistir a mim é inútil
acreditar tanto assim é tolice
Gosto dessa tua musica
Esse teu perfume
grudou na minha nuca e no meu braço
Amo esse teu beijo
Me escapam palavras
Me afogo em desejo
Pensa melhor nessa resposta
Folheia de novo,
O livro não se acabou
Meu bem, preciso ser mais claro?
Amor, meu trem já chegou.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Adora.

Não estou enganado,
é de fato,
o sorriso mais lindo que existe.
Ela quer voar.
Bela antítese para nós,
do signo de terra.
Ela quase se entrega
e esboça resistência
"Não tenho muitas horas"
Lembro então dos acordes rápidos e complicados
dos quais ela tanto gosta
"E o que o vento lhe diz?"
resposta rápida:
"Medo,
De que fique tudo errado,
De terminar infeliz."
Tropeço em minhas silabas
A mão desliza os cabelos
os olhos se perdem.
Uma isca
"o que você vai fazer?
faça agora"
Deixa o perfume embaçar a vista.
Se me sinto um idiota
acho que ela adora

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Signo de touro.

Numa quase linha reta,
é você vindo.
Tudo acelera ou anda mais lento?
Desculpa se eu não for a pessoa certa,
mas tudo faz sentido.
Ainda sou teu prolongamento
em versão masculina?

"Olá, me abraça"
Junta os pedaços, os mesmos das madrugadas,
põe na minha mão.
Me encarrega.
Sente meu cheiro
Não são mais letras, são corpos inteiros

Desculpe o tanto de palavras.
Já sabe que todas as letras
são pra ver teus olhos balançarem.
Todas as frases
são para as coisas embaralharem,
e tu não perceber tua cabeça cair
teu castelo de ideias ruir
e ser refeito sob meu ombro.
Você me anestesia com sorrisos
prende as unhas nas minhas costas.

No tablado de madeira branca,
as coisas se perdem
e se acham em palavras
mudas em uma dança úmida
sem coreografias pré-programadas
Não diz que tem que ir
diz que acredita em mim.
Gira pra se encontrar de novo
Vou sim até lá em baixo,
deixa a certeza subentendida,
eu absorvo
Mais dias, mais meses
Infinitas vezes

"Ah, eu quero entender"
Você é engraçada,
E tem gosto de chocolate duplo.
E se eu fico quieto, lhe escapa risada
"Tem coisa que não é pra explicar"
Toca os lábios, fecha os olhos.
Sente.

sábado, 11 de julho de 2009

Segundos

Meus olhos teimavam
em ficar naquela boca
Meus olhos desciam, subiam
e morriam naquelas palavras mudas e roucas,
que eu só conseguia enxergar
a língua por entre os dentes


Amor,
devia ser.
Essa vontade de se unir,
fingir morrer
e sentir tua respiração na pele
e deixar os corpos se decodificarem.

Tanta coisa,
e eu queria me perder mais,
em boca braço ou mais.
Se amor é filantropia
se é altruísmo
já não era nada disso

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Gratidão.

Estas teias agarradas em meus braços, não são minhas.
Entende que são só palavras?

Sim, o peso da verdade
é magoa, é saudade.

Esta lâmina doce, morando em minhas mãos
ah, ela não é minha.
Agora que dormirei em paz,
talvez jamais queira acordar.
Meu compreender não é aceitar.
Se só lembrar é feliz, então
me deixa embaralhar nossos nomes no chão
meu sinal de gratidão.