sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Nena.

Ojos errantes
No puedo vivir
mi sufoca su olor
me siento sin trillos
un pecado andador
cruza el pasillo

Morena Flor
mi ángel exterminador
mi deseo más fuerte
Navego en su escote
Su piel huele a fruta
pero sabe a sudor y cicuta

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Retrovisor.

Bom te ver, amigo
Me diz como se sente
Um velho conhecido
Em um corpo diferente

Me conte de suas viagens
Lembro pouco de sua namorada
Saudade, meu velho amigo
Alguem de quem sei quase nada

Pelas estradas na vida
Nenhum rumo foi certo
Tanto riso, tanto choro
Novo Mundo descoberto
Sei que pareço cansado
Sei que pareço perdido
Mas sempre estarei ao seu lado
Meu irmão, meu amigo

terça-feira, 12 de junho de 2012

Heavy Metal.


Eu congelei você em minhas lembranças
Em pequenas partículas
Como agua, ou espirro
Eu sonhei com viagens de navio
Eu era uma estrela de cinema
Tentando viver um refrão de verão
Isolada num cândido quarto de hotel abandonado
Eu sou uma mariposa presa no jarro

Eu congelei você em pedaços
seus olhos conservados e metade do seu sorriso
A insolente barba falhada
Tudo num subsolo inacessível
Onde não sejam recorrente as dores musculares
Sem elevador nem lances de escada
Enquanto meu cabelo foi puxado
Eu sou a mesa empoeirada

Eu cristalizei você em cubos
Uma fina camada de gelo
Purificai o sangue em minhas pernas
Sua mão trancando meus braços
Friccionando, perfurando meu baço
Rompendo minha derme como um guardanapo
O coro de anjos contra uma corte de lobos
Seccionando minha vida em duas metades
Sob a sinfonia do moedor de carne
Esmagando meu mamilo
Um carrilhão de urros
Uma maleta secreta
A união dos pólos magnéticos
O viscoso mel escorrendo pelas portas
Descendo os andares do hotel
O sublime prazer indelicado
Eu sou o manequim amputado

terça-feira, 15 de maio de 2012

Maio.


Seis de maio. Eu acordei na hora do jornal. O rádio estava ligado em algum noticiário oscilando entre comentários da novela e uma operação policial na Zona Oeste. Dois policiais morreram. A traição foi descoberta. Depois de ir ao banheiro, andei vagarosamente até a cozinha pra fazer café. Parei uns minutos no espelho da sala, mas não pensei em nada. Achei que cortar o cabelo seria uma boa, ou ao menos desfiar as pontas. Não tão por conta do espelho, mas pela revista que andava lendo antes de dormir, agora jogada no pé da cama, eu acho.

Demorei uns dez minutos entre achar a caixa, lavar a louça e botar o café pra passar. O cheiro viajou pela casa. Depois, mais cinco minutos esfriando na caneca de porcelana com motivos infantis. Não tinha pão. Na verdade, faz muito tempo que não como pão assim em café da manhã. Além do mais já tinha passado do meio dia. Vi as notícias na internet. Incêndio em Friburgo. Também abri um site com os horários do cinema. Voltei ao banheiro, ainda meio sonolenta, mesmo depois do café, mesmo depois das notícias. Sentada no vaso, eu fiquei pensando como numa revista onde li sobre minha banda favorita. Eu ainda estava de meias. Meia de bichinho.

O dia estava correndo, e decidi agir. Depois de um banho, vesti uma jeans e camiseta. Só quando estava no meio do caminho, percebi que não me lembrei de recolocar os brincos. Eles tinham ficado na saboneteira da pia. Meu tênis azul estava um bocado sujo de lama da ultima vez que usei.  O cordão e duas borrifadas de um perfume que quase nunca usava. Peguei as chaves e parei um pouco apoiada na mesinha de mogno da sala tentando lembrar se não me esquecia de nada. Dinheiro no bolso, chaves e as cartas nas mãos. Quando já estava do lado de fora é que alguém tinha falado no rádio que poderia chover. Então voltei para pegar uma jaqueta e aproveitei pra prender os cabelos num rabo de cavalo.

Primeiro eu passei na banca e comprei um jornal e cigarros. Filtro branco. Acho que na verdade só comprei porque eu estava olhando aquelas revistas de mulher, passando as páginas, parando os olhos em alguns títulos e o dono parecia não ter muitos clientes naquele horário, estava com a atenção toda em mim. Eu não sabia se era por puro tédio, ou se curiosamente ele fazia do tipo que queria me comer. Constrangida, eu preferi comprar alguma coisa pra fazer valer os dez minutos que fiquei lá olhando as revistas. Antes gastar umas moedas do que alguém ficar me xingando em pensamento. Meu segundo rumo foi ir aos Correios. Fiz um canudo com o jornal e botei o maço de cigarros no bolso interno da jaqueta. Postei duas cartas, uma para minha irmã e outra para minha amiga chilena. Daqui a três dias seria aniversario dela. Antes tinha pensado em comprar alguma coisa, mas pela indecisão preferi mandar um cartão. Sabia que a carta não chegaria no tempo hábil para os parabéns serem dados antes do aniversário, mas que ela ficaria feliz quando chegasse. Resolvida a parte legal da coisa, passei no mercado para comprar alguma coisa para comer e também frutas. Na volta, mesmo meio atrapalhada com as sacolas e o jornal, parei novamente na banca e matei minha vontade e comprei a revista de mulherzinha. O jornaleiro riu.

Arrumei tudo na geladeira, vagarosamente. Tomei um banho bem demorado. Era o tipo de coisa que fazia valer a pena estar de férias do trabalho. Não tinha marcado viagem, nem tinha mais paciência pra ficar indo ao cinema. Sabonete esfoliante, xampu, condicionador. Percebi que estava com uma espinha na bochecha direita, na altura do ouvido. Fiquei uma meia hora debaixo da água quente.
Já era na hora do jornal da noite quando tomei coragem, então. Tentei adiar de todas as formas, mas já estava na minha mão, seria bobagem continuar isso pra sempre. Sentei na cama com as pernas cruzadas, e parei a mão sobre a monograma dourado de vocês. Fiquei meio engasgada, mas abri a carta, o convite. As letras em dourado. A parte boa era que não trazia nenhuma grande novidade, tirando o fato de que pensava que você não quisesse casar segundo os preceitos Católicos, quanto mais numa igreja. Não comigo. Mas, afinal, não seria comigo mesmo.

Fiquei olhando para o convite e pensando um milhão de coisas. Não que fosse bem o que eu chamaria de ciúmes, mas também não deixava de ser. Acabei fazendo um café. Bastante café que botei numa garrafa térmica com flores verdes desenhadas. No meu HD tinha alguns filmes de comédia que um amigo do trabalho tinha me passado, e talvez esse fosse o momento pra assistir. Por mais que as situações absurdas se esforçassem eu não conseguia rir porque pensava nela provando um vestido e tiara brancos e em você se forçando a calçar sapatos sociais. O cara pensava em maneiras idiotas de matar o próprio chefe. Fiquei pensando se alguém ia te ajudar a comprar os sapatos certos, ou você como sempre compraria maior que seu pé.

Eu sei que nunca liguei muito para casamentos, principalmente depois que meus pais se separaram. Mas, do tempo que estivemos juntos, você me convenceu o contrário. Só não lembro se cheguei a te contar isso. Achei que teríamos tempo para conversar esse tipo de coisa oportunamente. Não tinha como eu pensar que um dia acabaria numa briga. Não tinha como eu pensar que um dia você iria casar com outro alguém. Quer dizer, você casar é perfeitamente compreensível, até porque esse foi um sonho mais seu do que meu. Só nunca imaginei que doeria.

Não sei em que momento você está lendo essa carta. Espero que o casamento seja muito bom para você, e que ao menos nos primeiros seis meses seja tudo o que você sonhou. Agradeço o convite, mas não poderei comparecer. Não marquei nenhum compromisso no dia, nem desprezo sua lembrança. Simplesmente, foi muito difícil deixar você morrer dentro de mim. Por muitos dias eu chorei por ter sido culpa sua. O processo foi todo muito longo e demorado. Senti-me culpada. As lembranças foram minguando, as fotos esquecidas, até que você virou isso, um convite. Seria muita cara de pau minha comprar um vestido e me despencar de casa, quando na verdade nem todos meus sentimentos são exatamente ternos. Você vai casar, e que seja feliz. Mas isso não corresponde mais a minha história. Deve fazer um ano que não nos falamos e o seu casamento não seria o melhor momento pra isso. Não fique enchendo ela com aquelas conversas filosóficas, conselhos de psiquiatra que escreve para jornal. Se esforce para ser mais feliz do melhor jeito que vocês puderem e pra achar os substratos certos para que o casamento não venha a ruir com o tempo.
Fazia tempo que eu não te contava o meu dia.
Desculpa ter demorado a responder. Que dê tudo certo.

domingo, 22 de abril de 2012

O Colecionador.



Eu não tive uma banda rock.
Quis e fiz bastante esforço, mas não tive uma banda rock. Algumas noites eu ficava improvisando, imaginando o suor e a platéia cheia, as brigas e as entrevistas, mas não tive uma banda de rock.
Eu não criei confusão com os amigos na escola. Acredito que por isso, eu não tive uma banda de rock. Eu tentei seguir na linha, fazer o fácil, a coisa certa. Não fiquei sem recreio, meus pais não foram na escola. Meus amigos não ficaram com medo de serem advertidos. Meus amigos não tiveram medo das chineladas. Na verdade, meus amigos não existiram. Amigos, poucos. Cada dia menos. Eu não fui estudar na casa de alguém. Eu não fui convidado para a festa de aniversario. Isso deve ter me privado de muitas vergonhas, mas também de muitos risos. Eu não fui convidado para beber escondido, nem para uma festa de quinze anos. Então, eu lembro bem de ter visto passar os convites de mão em mão, mas nenhum parou na minha. Eu não comprei uma roupa social, nem flertei com ninguém. Eu não quis beijar ninguém num canto da festa, não passei bilhetinho nem pedi que alguém falasse por mim. Eu não tive para quem pedir ajuda quando senti medo ou dificuldade. Não me ofereceram uma amizade.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Projeto.

Pensei que casariamos
O apartamento decorado
O sofá conforto de poltrona de cinema
Mesinha de centro
Pensei que teria ciumes
Ameaçaria jogar escovas fora
Ameaçaria pedir que fosse embora
Sono pesado
Pensei que chorariamos
O perfume de frutas somado ao cheiro de leite
O corpo pequeno com pomada e talco
Domingo de sol
Pensei que desculparias
O mal seria desfeito
O começo seria refeito
Mas, infelizmente

domingo, 11 de março de 2012

A Frequência.

Existe uma canção, eu sei voce gosta
Os versos sobre vicio, trouxeram uma resposta
No console do seu carro, o cinza e o prata
e sibilando baixo numa lingua indecifrada
Voce liga o radio com os vidros fechados
Aumenta o volume, o ar condicionado
Deus sopra o refrão
Agora está tão calmo
As ondas que acordam, e o radio está ligado
Purifica a solidão, de outro dia amargo
Obrigado pela vida e pelo transito parado