domingo, 25 de dezembro de 2011

Nós.

Farei que fosse verdade
Chovo, e peço o inverso
Não quis por vaidade, é que no meio sempre me estresso
por pouca coisa, por coisa boba
mas hoje tanto faz
passei um ziper na boca, pra ter um pouco de paz

Eu quero um suco, uma sombra
e a palavra que abre o portão
Tou ficando meio velho, se ouço um zumbido
confundo com "não"
que nem sei se uso faca ou colher de sopa
mas hoje tanto faz
repetindo na mesma roupa, pra ter um pouco de paz

Rabisco e rasgo o meu contrato
o que é fato eu vejo no espelho
e fica sendo o nosso trato
um retrato dos dois aos beijos
eu viro copo eu solto fumaça
e a graça toda é porque ninguem mais
Eu tou tentando acertar umas coisas,
pra ver se encontro um pouco de paz

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Nota do Autor.

Quando eu comecei a escrever esse livro, bem, eu não estava nos meus melhores dias. Não falo de doença, ou mesmo essa tosse: é sobre não estar bem mesmo. Na verdade, acredito que seja algum tipo de doença do espírito, que já estava em mim por muito tempo e aproveitou a hora certa para me atacar. Sinto como se fosse um peso que carrego desde criança e que foi me atingindo gradualmente. Eu havia iniciado um pouco antes esse livro, e acabou sendo terapêutico. Apesar de não estar totalmente curado hoje, eu consegui mandar alguns tigres embora. Esse livro é o resultado de dias ruins.

Minha infância não foi muito boa. Eu nunca me senti muito confortável em falar sobre essas coisas, mas acabei botando bastante dessa época neste livro. Sempre fui muito introspectivo. Aprendi a ler muito cedo, e sempre tive acesso a jornal e quadrinhos, mas até hoje não sei andar de bicicleta. Meu pai perdia algumas horas comigo brincando de carrinho, desses feitos com escala, e bolinha de gude no tapete, mas à medida que surgiram as dificuldades, ele se tornou ausente, e meu grande amigo passou a ser a máquina de escrever que tinha sido do meu avô materno. A caixa onde eu guardava os carrinhos deve estar até hoje esquecida na casa da minha mãe.

Quando eu comecei a escrever profissionalmente foi bastante gratificante. As coisas que eu tinha vivido anteriormente, minhas desventuras amorosas, meus empregos que não tinham muito do meu perfil, tudo passou a ser material para a escrita. No meu primeiro livro, eu ainda colaborava com uma revista semanal e mantinha meus fanzines. Era medo de se isso de escrever não ser tão solido quanto eu queria que fosse. Felizmente acabou sendo bem confortável. Fazer quadrinhos já não me preenchia, mas ao mesmo tempo eu tinha muitas idéias na cabeça, e então escrever foi bem fácil, apesar da insegurança. Não acredito muito nesse tipo de coisa, mas vamos dizer que tive algum tipo de sorte, pois foi uma época próspera para escritores iniciantes. Lembro muito bem de estar sempre em reuniões onde eu transitava no meio de gente grande desse meio, que comentavam falsamente terem gostado de algo meu que tinham lido. Apesar de tudo, eu era um homem comum, que ia para as sessões de cinema de terça a noite.

Este último livro foi, no entanto, o mais gratificante de ter concluído. Algumas vezes eu pensei em desistir, porque escrever estava ficando bastante doloroso. Eu já tinha sentido isso antes durante meu livro anterior, por problemas amorosos. Foi o fim de um namoro de três anos e eu acreditava que iríamos casar. A editora queria alguma coisa, e eu tinha que dar, porque esse é meu trabalho. Muitas vezes eu ficava ouvindo aqueles sambas antigos e meu pensamento ia longe. O resultado foi um trabalho que, por assim dizer, não ficou completo como eu queria que fosse, mas hoje eu aprendi a ver um pouco de beleza nessas falhas.

Agora com o fim deste livro, eu sinto um dever cumprido. Sou um homem bem mais amargurado por dentro, e às vezes vago na minha casa como se fosse um fantasma, mas acredito que quanto a meu manejo de escrever, cheguei ao meu limite. Isso deve ser bom para quem lê, mas eu, diríamos assim, estou esgotado. Aceitei esse meu desafio como uma maldição que eu teria que enfrentar, mas agora estou cansado. Tenho seguido com aquilo que é meu oficio, pois sempre há gente nova disposta a conhecer uma nova matéria bruta e fazer suas leituras. Faz bem saber que estou fazendo meu papel e preenchendo nem que sejam cinco minutos da vida de alguém. Ou essa é minha vaidade. Sinto que estou desaparecendo.
Espero que esteja me ouvindo, Julia.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Chanson.

Os cabelos negros
Olhos apertados
Pérolas-sorriso
quase tão fascinante...
Vestido colorido
jeito atrapalhado
o timbre suave
que eu esqueço por um instante...

Quem arquitetou
também tracejou
Escalimetro e compasso
Um dia tumultuado....
Cada movimento
risco calculado
perde-se o novelo
E o peito acelerado...

E num lampejo eu lembro na hora de escovar os dentes
E os meus resmungos se intimidam e perdem a razão
E de querer e não poder algo me queima a mente
E sinto cocegas no rosto e suor nas mãos

Que o incerto olhar fosse uma lança,
e cada caminhar fosse uma dança
A música seria o sibilar da própria voz
Mas esses olhos brilham feito faróis,
e o canto da sereia encanta sempre mas
reflete no sorriso que cintila
Todas cores dos corais