sábado, 27 de março de 2010

Amor Tarantino.

Vamos dar um tempo.Dois minutos pra nós mesmos, longas horas pra nós dois
É prazeiroso ou cansativo esse Amor Tarantino? A similaridade da montagem final das cenas e do conteúdo metafórico (ou non sense) faz refletir:
Longos diálogos sobre o que gostamos,onde a musica e personagens ficcionais só funcionam como ora escape, ora referencia filosófica pra nós mesmos,para falar com uma leveza embutida sobre o que fica dando rodeios na nossa cabeça.
A violência também é recorrente, em diferentes dosagens e concepções.As vezes, pelo simples fato de chocar.Não reclame a falta de sangue estridente.se por um lado não há impacto visual, pense que sem ver sangue fica muito mais difícil fazer um curativo no local certo.
A narrativa avança sem avisar e fugindo de ser linear.Projeções futuras e lembranças passadas caminham lado a lado.
Quem está dentro, quer ir até o fim pra saber como vai terminar.Mesmo sabendo que qualquer coisa pode acontecer, que o final pode ser previsível, não importa.Prazeiroso ou cansativo, eu penso que seja, magicamente, um bocado dos dois.

Certamente, chegará a hora em que vou olhar teu rosto forçando autoconfiança, enquanto eu vou estar amarrado e dentro do porta-malas...

quinta-feira, 18 de março de 2010

Universo em teus olhos.

Ele levantou, e foi na ponta do pé na cozinha.Tomou agua, olhou ela de longe.Voltou, puxou um pouco o lençol, lembrando de não descobri-la.Afagou sua cabeça e a trouxe o corpo dela pra mais perto.Dormindo ela sorriu.
Passaram dois, três trens... ele ainda insistia.Ela segurou as mãos dele junto ao peito em forma de concha e sorriu."Tudo há de dar certo"
Se não tinha nada de ruim, ele esperou mais quatro.Entrou no quinto.Chegou algum tempo depois, atrasado, mas ela lhe conferiu um dos seus melhores abraços.Estava muito feliz, e isso era visível."Você conseguiu"
Pra celebrar a faculdade, eles foram sair juntos.Um par, de doses.Ela ficou tonta.Ele também, mas...o importante é que ela ficou.E de deitar no gramado, subir escada, ir pra li, ir pra lá....não há quem não canse.Permita-se deitar em transe.
Ela disse que não viria, ele ligou pra confirmar.Ele resplandeceu.O bloco vinha descendo a rua, ele ajudava ela com a bolsa.Ficou alguns dias, (como se algum dia tivesse ido embora)todos muito alegres.
Ninguém combinou que fosse assim, e jamais haverá pecado.O nome que ouvia displicentemente, agora era a palavra que sem querer eu sibilava.
Um dia se perderam, ela tentou acha-lo pelo celular.Tudo fora de área, fogos e champagne estourando a beira mar.Eles se perderam no meio do bloco.
Ele sentou no chão bufando.Ela ficou chateada, desapontada e com raiva.Coisa que mulher sente, e só quem sabe de mulher entende.
Ele saiu cedo porque ela estava sozinha em casa.
Comeram pizza varias vezes juntos.ela se chateou varias vezes.ele quis compensar varias vezes.Ela dormiu feliz varias vezes.Ele nunca voltou pra casa.Em qualquer lugar que pudessem estar, seria sua casa.
No final de semana choveu a beça.Ela não quis sair, o time dele perdeu.Mau sinal.
Ela dormiu, ele acabou dormindo junto.Ela se virou e o abraçou forte, com seus braços macios.Seu rosto de princesa parecia lindo, intocado e com pó de pimenta.Insistiu pra que eles levantassem, estava muito tarde.
Mal sinal, muito tarde.Tudo há de dar certo.
Talvez ela nunca tenha entendido, mas sempre vi um um universo naqueles olhos.Um mar de possibilidades, de coisas concretas e inesgotáveis.Mesmo em desacordo as vezes, sempre havia uma forma de nivelar os sonhos.Ela ser uma mulher feliz e independente, eu ser rei nas minhas nuvens.Os olhos são mundos, e eu me vi refletir nos teus.Não só minha imagem, mas toda minha felicidade, e por isso ficava te olhando falar dos planos, como daquela vez fora do shopping, perto das motos.
Não sou relojoeiro, muito menos Deus.
Ele ficou com vergonha e não soube onde por a flor e a aliança comprados pra serem felicidade no dia seguinte.Ela acabara de o informar, que tudo estava acabado.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Agonizando.

Aquele e-mail não chegou
Retardei começar meu dia por algumas horas.Tinha outras coisas, mas o e-mail demorar me dava segurança na minha preguiça.
Não chegou, fui fazer as outras coisas.Sempre tem coisa por fazer.Quando não tem, a gente inventa.Dessa vez, inventar não foi necessário.
Nos últimos dias, estava com muito sono.Ok, eu mesmo que cavo essa sonolência, mas tenho lá meus motivos.Durmo tarde e acordo cedo, invariavelmente.Eu sei o que faço, mas reclamo pros outros: "essa vida é um lixo".Não sou de reclamar demais, mas esse ar condicionado me gela demais, não tou acostumado.Em semanas alternadas, fico com tosse, dor de garganta...essas coisas de quem tem alergia.Acordo cedo pra pegar o metro.Não gosto muito de ónibus, não gosto de jeito nenhum de trem.
Metro as vezes atrasa, vem cheio de gente.Não gosto de gente que tagarela muito de manhã.Não gosto de gente que fala demais de banalidades.
Não gosto de gente que as sete já está explanando pro povo que a vizinha do barraco de baixo deu uma surra na filha que ficou gravida com treze anos.
No metro o pessoal não fala muito.Acho que todo mundo está muito cansado, muito sonolento e muito puto com o atraso.Ou então eu gosto mesmo de metro e quero arrumar uma desculpa.
Durmo tarde porque quando chego em casa fico mole.Até começar a fazer o que gosto, já passou um tempão.Tomo banho e caio morto, isso quando tiro os sapatos.Na hora do jornal estou na internet, na hora da novela estou jantando.Os amigos ficaram escassos.Depois das dez fico vendo tv.Só vou dormir depois do ultimo jornal, sempre acho que ele vai trazer uma noticia do dia seguinte.
Por algum tempo achei estar cercado por idiotas.Agora acho que sou um deles.
O e-mail chegou.Li o nome e não quis abrir.Comecei por impulso.Se fossem letras, seriam miúdas e corridas, inclinadas pra direita.Fui descendo os olhos pelas linhas
nada que me fosse novidade, mas que eu tinha dificuldade em engolir.Era eu sozinho de martelo pra derrubar um muro de Berlin.Aonde a gente se perdeu?
Continua uma merda.Até o próximo dia, até o dia seguinte.