segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Pequenas Trapaças.

Pedro paga a passagem do onibus com um punhado de moedas. Faltam dez centavos. O motorista lhe encara, enquanto ele ri.
Rita troca os ovos quebrados da sua caixa por ovos bons de outras caixas no mercado.
Felipe inventa uma dor de barriga pra faltar a aula.
Marina corre e  pede que a mãe diga que ela não está quando Thiago liga.
Rafael se arruma sem vontade de sair. Desiste e acaba dormindo de meias.
Gersin dá dois toques à cobrar e espera que retornem a ligação pro seu celular.
Luana diz que ama o namorado mas ainda fala escondido com o ex. Ela tem medo de ser sozinha.
Gui pede dois sacos de doce pra moça que está distribuindo na pracinha. Ele aponta um guri ao longe e diz que é seu irmão.
Alice come o amendoim que botaram na mesa e esconde o papelzinho.
Ele ri com tom de deboche, enquanto ela o observa com desdém. Os dois estão brincando pra ver qual a próxima jogada.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Azul.

Eu pensei em te ligar segunda passada e falar tudo o que já te disse, varias vezes.Não era nenhum argumento novo, nada de grave que tenha me acontecido recentemente, nada que você de fato fosse resolver.Fiquei olhando pro relógio deixando os minutos passarem, porque teria que ser numa hora quebrada, pra que você não achasse que sou tão desesperado, como sou.Tirei o telefone do gancho mas desisti.Encarei que seria bobagem, que era só uma vontade fugaz e fui dormir até o dia seguinte.
Vinha conservando um bolor enorme de você desde que nos separamos.Eu te amava, eu te amo, e você me deixou assim sem muitas explicações.Entendo que você possa ter cansado, desgastado e tudo, mas o que fiz de errado? De repente, tudo me lembrava você: Fui naquela papelaria perto da praça comprar uma Bic pra prova de filosofia e tinham varia pessoas escolhendo cartões pro dia dos namorados. Minha irmã comprou uma caixa de Ferro Rocher que me lembrou quando eu comprei uma pra te dar quando a gente brigou; um amigo se mudou e comprou uma escrivaninha igual do a seu quarto; fui ver um filme e voltando de metro, tinha um casal abraçado igual a gente ficava (igual mesmo).Entrei na livraria e estava tocando a musica do Strokes que você disse que me lembrava, e até botou pra ser seu toque de celular quando eu ligasse.Enfim tinha chegado o cd do Stone Temple Pilots, mas eu não tinha ninguém pra comentar minha felicidade.Eu tinha passado duas horas olhando CDs sozinho, sem conseguir entender porque você se foi.
Recentemente eu voltei a fumar, por contra própria.Alguns dos meus amigos de ocasião me chamavam pra tomar uma breja, eu preferia ficar em casa.Comecei a ler livros da grossura de um Harry Potter em três dias.Ficava largado no sofá até o sono completo me dominar, pulando de canal em canal, brincando com a aliança que eu tinha comprado pra te dar.Faltas seguidas em compromissos, mau humor constante.Talvez eu tivesse sido realmente injustiçado.Se eu estava sofrendo por ter feito tudo certo, era sinal que você era alguém cruel.Eu quis ligar pra gritar isso no seu ouvido.
Acho que no momento que devolvi o telefone pro gancho, vi que eu ia fazer uma besteira se tivesse ligado.Seria uma desonra pras nossas tardes de domingo com sorvete no chão do seu quarto, uma desonra aos nossos telefonemas noturnos.Tudo o que nos aconteceu foi mágico, mas acabou.Eu não posso ser injusto com você.Tudo o que fomos deixou lembranças provam o quão maravilhosos pudemos ser um pro outro.Eu só queria desejar que você seja feliz, encontre alguém que te conforte, como eu estou tentando encontrar.