domingo, 30 de agosto de 2009

Imperdoável.

Se o teu sono agora é tão tranquilo,
é a ausência daqueles sujeitos.
Os olhos pretos se escondem em cílios.
Não honra os pais,
Tem medo de ter filhos

Indesculpável
Esse ser humano
Teu próprio gosto lhe foi desleal.
Limpou a boca suja com a roupa,
nas frutas faltam azeite e sal

Derrubou molho na ponta da mesa
Pingou no chão, até parece sangue
Se eu não fui alimento suficiente
Chama teu animal adulto, ele lambe

Está chupando línguas, mentiras e pregos
Fez da cruz martelo de brinquedo
A aliança que voltou pra caixa
não é mais digna de estar no dedo

Sujeito indefinido, sem predicados
Da boca escorre um vermelho vivo.
Moscas beijam feridas abertas
Trocou trinta moedas
por três grãos de milho.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Simples.

-Está tudo certo.
Ele veio com passos leves, mas ainda assim o chão de madeira rangia.Sentou na poltrona de frente a minha, começou a preparar o cachimbo.
-Deu tudo certo, como eu previ.Agora, toda a Scotland Yard deve estar tentado entender o que aconteceu.Nunca descobrirão.Saiu perfeito.
Arrumei meu chapeu-coco na cabeça.Pra onde eu olhava, via aquele homem de meia idade.Ele não devia ter uma esposa? Quadros, medalhas, a garrafa de licor com um copinho do lado.Tudo tinha uma camada fina de pó.A lupa e o jornal na mesinha de centro.Tudo ali era aquele homem, assim como seu bigode caracteristico.Debrucei a cabeça sob a mão que segurava a bengala.
-Não há como ter saído perfeito.Deve ter deixado alguma pista.Voce mesmo me ensinou que não há crime perfeito.
Ele deu uma baforada longa.Afastou o braço, e a fumaça encobriu aquela cara por completo.Depois ele começou a ir aparecendo, como emergindo de uma neblina.

Certas coisas nascem com funções pré-determinadas

-Meu caro, perfeito não é o crime.As pessoas que são muito tolas pra não soluciona-lo.Fiz pensando no futuro.Se existem pistas, ninguem perceberá.
Mesmo errado, ele dava um jeito de parecer mais sabio, mais sobrio de uma alienação.

Seria um crime maior aceitar as designações amargas
Ou morrer tentando viver outros anseios?

Eu adimirava aquele ar superior.Por vezes me vestia com aquela sabedoria, e me perguntava se realemte me caberia, se podia me pertencer.Lembrava de quando aprendi a jogar xadres, de que cada peça tem uma função e movimento caracteristico.Cavalo pula os demais.Olhei ao redor, o florete e uma luva caidos numa poltrona alheia.Rainha vai pra onde quiser, assim como as rainhas da minha vida.Talvez nenhum chefe de policia britanico fosse apertar minha mão em gratidão por elucidar um caso com minhas percepções de logica aguçadas.Aquela fumaça me deu inveja, abri a caixa de madeira na mesinha, charutos latinos.Girei um na mão.Um charuto nasce pra ser incinerado.
Um dia eu morro, e ninguem sabe.Igual agora.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Nada demais.

Tomei costume,
de ser alvo dos teus truques.
Esses braços que me puxam
antes de eu cair no chão.

Me defendo de toda violência
com musicas tão bobas.
Todas as palavras, contra minhas palavras.
E eu não admito,
mas encolho os ombros.

Sem sangue dessa vez.
Não sei mais conjurar maldições.

As coisas mudam a cada dia.
Vamos começar uma pagina,
soltar as moedas de ouro.
Talvez houvesse uma tragédia
se eu não fosse tão velho e chato

Ficaria se me pedisse.
Não doeria acordar e te contar como estou bem.
Eu gritaria de feliz .

Há dias em que eu queria outra pele
pra me esconder
Uma que combinasse com sua roupa.

Eu que tenho os joelhos ralados
"quanto tempo?"
Eu que vivo entre deuses
e as vezes sirvo de tapete feliz
"por quanto tempo?"
Segurado pedras,
Engasgado de vontades.
Eu as vezes queria ser outro alguém

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Contra Agosto.

Os passos pesados,
apenas um sintoma de um sono interrompido
com o toque do despertador.
Sem alegria nas roupas.Café acorda.
Os olhos doloridos, de certa pelo mesmo motivo que lhe salgava a boca.
Esperando para atravessar a rua, lembra de uma música.
Será que ela estava bem?
Será que ela estava sorrindo com alguém?
Mesmo com o passar dos dias, sua letra continuaria tão regular e homogénea
nas próximas manhãs de domingo?

O tempo é realmente um deus terrível.


Adeus era uma palavra desconhecida para sua zona de conforto, ainda assim,
ela estava o incomodando.
Gotas de chuva na cabeça.Ela é musica que mais lhe agrada.
Convenções sociais:
O medo é o inferno mais amargo.
A defesa mais automática também.
"-Ponta do sapato suja...lama?"
-Chuva.
Lama cabe bem no momento.
Saudade do bolo de aniversário,
da entrada lenta na igreja,
da tarde nas pedras,
do tentar convencer o pai ausente...
Saudade de todas de todas aquelas coisas, que ele só viveu de olhos fechados

"Está decidido"
E as gravuras que estavam descolando do caderno?
Será que vai escrever o nome dele no canto da folha?
Havia mal em por aquela foto numa moldura?
Tosse breve, sintoma da chuva.
Dor de cabeça, sintoma da ausência forçada.
Café acorda.Quem quer acordar?
Um dia bom pra ter preguiça a dois.
Uma mancha no ombro lhe lembrava que era feliz

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Duas linhas.

Meu trem é o próximo
e não sei se volto.
Apesar de eu querer,
acho que agora não dá
Mas vou tentar.
Volta sim!
E não peça pra eu desistir
Você cisma em insistir
Como você é bobo
e você é chata
e então, a gente se marca de novo
vira o rosto, acha graça
já sabe como é
eu te disse
Resistir a mim é inútil
acreditar tanto assim é tolice
Gosto dessa tua musica
Esse teu perfume
grudou na minha nuca e no meu braço
Amo esse teu beijo
Me escapam palavras
Me afogo em desejo
Pensa melhor nessa resposta
Folheia de novo,
O livro não se acabou
Meu bem, preciso ser mais claro?
Amor, meu trem já chegou.