terça-feira, 8 de setembro de 2009

Os Matadores.

Ignorando janelas fechadas, um faixo de luz bateu na cara dele.Estava quase acordando do quase sono, depois de um prazer inteiro.Botou a mão na cabeça dela e começou a fazer carinhos circulares.Aparentemente ela ainda estava dormindo, ali com a cabeça no peito dele, como devia ser sempre.
Quase nunca tocava uma musica boa, mas em sua cabeça ele imaginava uma.Nessa noite, tinha sido literalmente um quarto em chamas.As vezes ele deixava fumaça sair de sua boca.Ela falava de mais ou não dizia tudo o que precisava.As vezes se viam e não falavam nada.A parte divertida era esperar o outro baixar o olhar pra sacar a faca.
-Está tudo bem?
Tinham aprendido a se odiar.A calcinha no banheiro e a toalha pelo chão.Se amavam assim.Chegava a ser irritante quando ele se empolgava em seu gosto por bandas clássicas, citando álbuns e falando sobre o timbre da guitarra.Era igualmente chato quando ela falava dos livros que tinha lido nos últimos seis meses.
-Não sei quem te disse que minha vida gira pra você.
Foi assim que acabaram viajando juntos uma vez.Quase ninguém entendia a lógica deles.Quem entendia achava graça.Não era só sexo, mas também era muito bom.Se ela não fosse tão tempestuosa, já estariam de aliança, o que teria evitado a passagem dele pela vida de outra pessoa.Dançavam com foices, e tudo o que faziam era cortar cabeças alheias.Ela ficou chateada quando ele fez vergonha aos pais, mas ela mesmo odiava aquele carro velho dele.
Garota classe media que mordia a boca todo dia indo pro trabalho, pois preferia viver de um ócio criativo, escrever um livro.Ele rapaz sem ouro que tinha ficado super feliz quando passou no vestibular.Moravam longe, e quando perto só paravam de se combater quando o pulmão de um já estava cheio do cheiro do outro.Um dia ele ligou e incrivelmente ela atendeu.
-É só você chegar.Já tou descendo, amor
Ela acordou.Percebendo ele logo tirou a mão da cabeça dela.Fingiu tossir mas nem assim ela o encarou.
-Que horas são?
Ela tinha um orgulho bobo, o mesmo que fazia querer dividir a conta.Ele botou a mão na cabeça e viu ela se levantando e procurando sua camisa no chão.Vestiu pela cabeça.Talvez ela fosse assim com todos.Ela fechou o ziper e ele rolou pelo colchão.Ele se sentia mal pelas coisas que tinha feito de errado, mas seu egoísmo lhe dizia que o maior injustiçado era ele.Ela sentou na ponta da cama e já estava amarrando os cadaços.Um dia no meio de tanta gente, ela sussurrou que casaria com ele.
-Não sou sua namorada
Ela volta, sempre volta.Nunca fica.
Talvez no próximo final de semana, a vodca o fizesse achar algum amor descartavel.Ela morreria de ciumes em casa, mesmo assim o perdoava.
-Você é incrível
Era um grande idiota.Naquela noite, ele tinha comprado uma garrafa de vinho pros dois, que a libido acabou forçando-os a abandonar pela metade.Ele adorava o jeito como quando sem graça, ela ficava insistentemente arrumando o cabelo pra trás da orelha.Ambos tinham culpas engolidas.O medo de perde-la de uma vez por todas sempre o fazia pedir desculpa mil vezes, o que reforçava sua idiotice.Ela achava bonitinho, e foi assim que naquela noite puxou o pelo pescoço pra ficarem de olhos fechados.
Ela girou a maçaneta e saiu.

"Apenas alguns sabem saborear a felicidade quando ela cai do céu em suas mãos"

Não foram felizes, mas se amaram para sempre.

8 comentários:

  1. O MELHOR DE TODOS!

    PQP! Que capricho!

    "Não foram felizes, mas se amaram para sempre. "

    E a trilogia se encerra da melhor forma possível! Orgulho total!

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  2. Adorei!!!
    Senti um clima de estória policial!...rs

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  3. levemente
    leve




    muito bom senhor jones.
    'melhorar sempre.

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  4. MUITO BOM!
    Puts, realmente adorei o texto.

    "Não foram felizes, mas se amaram para sempre." morri, perfeito (y)

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  5. Lindo, mostra uma dinâmica de relacionamento bem moderna e ao mesmo tempo bem romântica.

    Amei...

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  6. Uma história com altos e baixos e um acabamento explêndido. Muito bom mesmo, Arrasou !

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