terça-feira, 25 de agosto de 2009

Simples.

-Está tudo certo.
Ele veio com passos leves, mas ainda assim o chão de madeira rangia.Sentou na poltrona de frente a minha, começou a preparar o cachimbo.
-Deu tudo certo, como eu previ.Agora, toda a Scotland Yard deve estar tentado entender o que aconteceu.Nunca descobrirão.Saiu perfeito.
Arrumei meu chapeu-coco na cabeça.Pra onde eu olhava, via aquele homem de meia idade.Ele não devia ter uma esposa? Quadros, medalhas, a garrafa de licor com um copinho do lado.Tudo tinha uma camada fina de pó.A lupa e o jornal na mesinha de centro.Tudo ali era aquele homem, assim como seu bigode caracteristico.Debrucei a cabeça sob a mão que segurava a bengala.
-Não há como ter saído perfeito.Deve ter deixado alguma pista.Voce mesmo me ensinou que não há crime perfeito.
Ele deu uma baforada longa.Afastou o braço, e a fumaça encobriu aquela cara por completo.Depois ele começou a ir aparecendo, como emergindo de uma neblina.

Certas coisas nascem com funções pré-determinadas

-Meu caro, perfeito não é o crime.As pessoas que são muito tolas pra não soluciona-lo.Fiz pensando no futuro.Se existem pistas, ninguem perceberá.
Mesmo errado, ele dava um jeito de parecer mais sabio, mais sobrio de uma alienação.

Seria um crime maior aceitar as designações amargas
Ou morrer tentando viver outros anseios?

Eu adimirava aquele ar superior.Por vezes me vestia com aquela sabedoria, e me perguntava se realemte me caberia, se podia me pertencer.Lembrava de quando aprendi a jogar xadres, de que cada peça tem uma função e movimento caracteristico.Cavalo pula os demais.Olhei ao redor, o florete e uma luva caidos numa poltrona alheia.Rainha vai pra onde quiser, assim como as rainhas da minha vida.Talvez nenhum chefe de policia britanico fosse apertar minha mão em gratidão por elucidar um caso com minhas percepções de logica aguçadas.Aquela fumaça me deu inveja, abri a caixa de madeira na mesinha, charutos latinos.Girei um na mão.Um charuto nasce pra ser incinerado.
Um dia eu morro, e ninguem sabe.Igual agora.

4 comentários:

  1. Um dia eu morro, e ninguem sabe.Igual agora.

    uau!

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  2. Que vc era bom eu já sabia, mas a genialidade de como vc escreve é meio novo pra mim. A cada hora me supreende com uma coisa. Parabéns!
    Beijos de quem te admira...

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